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Quem, com olho clínico, examinar os versos aqui contidos, não poderá se eximir do diagnóstico: o caso de José Carlos Honório é o dos amantes da poesia. Os sintomas são de contágio crônico, vindo de longa data (o autor inclusive confessa ser este seu quinto livro do gênero, sem contar um volume de contos e um romance). É preocupante, se lembrarmos que até mesmo o mais que venerado poeta argentino Jorge Luís Borges, em certa passagem do conto O Descortês Mestre de Cerimônias Kotsuké No Suké escreveu, a fim de dar ideia do ponto a que chegara um personagem, que este “fez-se companheiro de rameiras e poetas e até de gente pior”. Mas nem isso adianta: apesar de toda advertência sobre o veneno dos versos, a inexistência de antídotos e outras sequelas, os imantados dessa seleta corte de amor seguem fiéis, rendendo coração e vassalagem à Soberana Poesia. E este é o caso.

 

Diagnóstico dado, detalhemos os exames. De início, há um buquê de poemas de paixão que, tenham ou não por objeto uma pessoa amada, um dos seres existentes que povoam o real, são também declarações sobre a própria arte de fazer versos: “...é difícil continuar te amando... / ...é impossível te esquecer” (Pelos olhos teus); “...as palavras se fossem ditas / pausadamente / seriam água pura e lembranças de infância...” (Flores em palavras).

 

Depois, com bisturi afiado, uma incisão leva aos sonhos profundos do paciente, quando o amante desejado não se entrega, a fruta esperada, a do título do livro, e o poeta vê apenas “...longe / pomares que se ausentam / longe dos homens... / ...e um lenço leve, leve / abanado...” (Pomares ausentes). Mas a reação vital não tarda, e da impossibilidade faz a força, quando o verso constata “...o que tenho de vida para exercer / aqui...” (Escada que foge) e que “...viver significa estar atento...” (Estremecimento de membros), com eco imediato na voz de Gal Costa a cantar “...é preciso estar atento e forte / não temos tempo de temer a morte...”). Em Vida oblíqua o poeta insiste: “...Ontem foi perigoso / Hoje é mais / Amanhã será...”. E vem um verso fatal, “...a lâmina dentro da mala antiga...” (Alojamento de pedra), e o dizer “...claro claro alto alto / e simplesmente...” (Nuvens postas).

 

(...)

 

Fabio Malavoglia

A paciência da fruta

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