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Num ato, uma caneca de porcelana abriga um poço. Em outro, dois corpos são um eclipse, “(...) e cobre/ com a luz/do seu dia/a minha noite”. Camila Paixão olha para cima e inaugura uma cartografia íntima de um corpo poético que se contorce. Um buraco pode ser tanto intruso quanto escape: o intercâmbio entre fora e dentro se articula em simbioses – se entrar é inevitável, sair é urgente.

 

Somos convidados a olhar para o passado e ex- perimentar memórias que denunciam: “os passos/ eram falsos”. Sem a possibilidade de esquecimento, não há leveza no caminhar; o que há é peso, acúmulo e pressão. Em deve ser um buraco no teto, estamos dian- te de um corpo que fala – mãos, boca, olhos, língua e garganta se colocam em movimentos de intradiálo- gos, subindo, à superfície da pele, as profundezas da alma. Se Paul Valéry estava certo quando disse que “o mais profundo é a pele”, então “O corpo/é tam- bém/um caminho/a ser percorrido”. Para o sujeito lírico, a palavra é um músculo que tensiona.

 

Entre prelúdios, prólogos e epílogos, a perspecti- va da subjetividade poética a de ser forjada a partir de uma espiral de ausências, vazios e silêncios. Em- bora, para Camila, o livro seja um corpo habitado e exista o desejo de arremate, o que há, no fundo, é um buraco no teto.

 

Carol Sanches

 

FICHA TÉCNICA

Gênero: Poesia

Páginas: 72

Formato: 130 x 200  mm

ISBN: 978-65-86042-59-7

 

Deve ser um buraco no teto - Camila Paixão

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