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Prometeram-me ensinar o segredo do equilíbrio”. Eis o livro inteiro de Diuli de Castilhos, o livro de uma aprendizagem, a do equilíbrio. Mas equilibrar-se não quer dizer, necessariamente, ficar parada e de pé. E, sim, se mover, cair, levantar e, principalmente, continuar se movendo. E, para isso, vale preparar a mochila, porque a viagem vai ser longa. Acho que, na verdade, a viagem nem termina. Mesmo que se leve dentro também “puro desgosto dor de estômago”.

Pois é, “eu carrego minhas coisas comigo”. Só que às vezes (muitas vezes) a sacola rasga, a caixa molha e as coisas com o nosso nome caem, ficam pelo caminho e vamos nos transformando, trocando de pele, de nome e de vida. Por isso, não dá para parar. Seja de ônibus, de trem, na garupa ou a pé, a voz que fala neste livro está saindo de casa, e essa casa tem endereços que passam em muitos países.

Voz que se despedaça em mil pedacinhos, mil coisas, “como se as coisas não passassem/de penduricalhos a nos separar do mundo”. Daí tudo emperra, dá defeito, “meu caminhãozinho/ arriou da tua areia// chamaram resgate/ a carga vai noutro/melhor equipado/ (...)/ vou colar um adesivo/ e quan do estiver/de pneus novos/de volta à estrada/to dos vão saber”. É assim mesmo que se vai adiante, tropeçando nos quebra-molas da estrada ou dando cambalhotas no ar.

É assim mesmo que “a vida se abre a cada passo rolando pedra”. Tem tanto deslocamento no livro que, é claro, o corpo também se move na direção do outro corpo, corpos que se mexem juntos, que aprendem juntos, que se aproximam, se afastam e se quebram. Mas de tudo fica um pouco: “ruas que conheci primeiro/pela tua boca de nomes inteiros”. Meio romance de formação, meio rito de passagem: “sigo acumulando falhas de formação”.

Certa vez, um autor conterrâneo de Diuli e citado por ela — escritor também dos ritos e das falhas — disse que escrever é enfiar o dedo na garganta, vomitar o que se leu e virou alimento. Só que Diuli de Castilhos lembra: “primeiro, dedo na goela”. Equilibrar-se inclui se desequilibrar. Por isso, o movimento é também vertical, o da queda: “preciso de um esforço muito grande para escrever”. Partir-se, espatifar-se e ir parar numa redoma de vidro até fazer dela uma kitnet. Igualmente parti-la para se espatifar junto dela em mil pedacinhos, fundi-los até se liquefazer: “escorro via terra”, “tudo pode deslizar muito rápido a ponto/de não se poder distinguir o chão/do que vem do ventre da terra”. Ela está falando de nascer de novo.

 

Leonardo Gandolfi

 

FICHA TÉCNICA

Poesia

Páginas: 88

Formato: 135 x 200 mm

ISSN: 978-85-92875-83-1

Kitnet de vidro - Diuli de Castilhos

R$45.00Preço

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