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Priscila, poeta da coragem que nasce da confluência entre o Mar e o Fogo, seus poemas nos relembram que a poesia é perigosa para as línguas das traças. entre a primeira e a segunda leitura do seu livro, me deparei com um poema da Adélia Prado que me aproximou de outra maneira de te ler: a Adélia escreve sobre a Morte do pai e no abalo desse gesto ela escapa da corrosão e burla o tempo. você também burla o tempo & suspende os limiares. você nos lembra que é possível soltar a mão da nossa mãe e ao mesmo tempo mantê-la perto, com uma xícara de café & saudade. sua coragem está também em assumir esse amor que se despede com liberda de e se agarra com gana. senti no livro você se entregando a si mesma, você sendo tuya, você sendo sua, você sendo suas palavras, você sendo suas memórias (& há tanta beleza e força em ver você sendo sua).


Priscila, poeta que invoca as palavras como conchas que se levantam e andam e derramam o Mar e os Peixes nos ouvidos de quem se aproxima. na primeira leitura do seu livro, decidi falar os poemas em voz alta no meio de um parque público num dia ermo. eu estava rodeado de Árvores, nada de humanos por perto. escolhi esse lugar por já saber, por meio de uma passada de olho pelas páginas, que o título do livro vinha do nome de um Pinheiro, de um parente das Árvores que me acompanhavam ali. e o Pinheiro que é podado num dos poemas, cujo nome a sua mãe circula, aquele Pinheiro chamado de Tuia, se espraia vertiginosamente a cada palavra no livro. os galhos daquela Tuia vão penetrando nas linhas e entrelinhas. e a Tuia podada me lembrou que na casa onde nasci tem um quintal. um pequeno e fecundo quintal. onde bem no meio vive uma Jabuticabeira. ela não dava frutos até que um dia meu pai podou alguns galhos. a poda, os cortes, mexeram em algo naquela Jabuticabeira que abriu caminho para os frutos. não me esqueço que o poema sobre a Tuia, também conhecida como Árvore da Vida e Pinheiro-de-cemitério, de início nos conta de uma poda. o que você está cortando com este livro? quanto da Vida/ a Morte corta? quanto da Morte/ a Vida corta? dá pra dar nó no cordão umbilical? os poemas talvez sejam frutos decorrentes da poda?


Priscila, poeta que inventa dias de Vida, poeta que não foge dos dias de Morte, te agradeço por nos entregar neste livro as palavras como folhas de Árvores ardentes na luz do lusco-fusco. seus poemas são radiografias em movimento, você se lança a vasculhar o corpo, a matéria da memória escorre entre os dedos e as marés de palavras nos revelam suas ancestrais que convivem com você-poeta, você-filha, você-mãe, você no centro de si mesma. desejo a você, Priscila, e a todas as pessoas que lerem este livro, e a mim mesmo, como uma prece, que nunca nos falte fôlego para percorrer os dois mil quilômetros até o Mar, e mais, até as raízes da Samaúma.

 

 

André Gravatá

 

 

FICHA TÉCNICA

Gênero Poesia

Páginas 48

Formato 110 x 110 mm

ISBN 978-65-86042-80-1

Tuia - Priscila Kerche

R$35.00Preço

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