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Sonetos das cem vias


Um soneto, uma sonata, um gol de placa, são os atos mais pensados da arte. Pensaram isso, o jogador, o músico e o poeta.

Quando quiseram colocar o amor num prelo sem prego, Shakespeare, Camões e Florbela Espanca, por zelo, escolheram o soneto. Vinicius de Moraes, na mais dispersa vida, foi atento ao soneto, e por dentro fez o melhor a que levou-lhe o intento.A poesia brasileira não se envergonha de seus sonetos, nem dos seus sonetistas. O eu é um dos melhores pontos de partida do lirismo e, nos sonetos brasileiros, o eu e o meu iniciais sempre indicam o percurso.

Soneto não é apenas a matemática da métrica, nem a saliva das rimas, é a desordem que se ordena na beleza. Sermos clássicos nos permite sermos modernos sem o elmo parnasiano.

“Amo a regra que corrige a emoção”, dizia Georges Braque.

Não importa se com cinco, dez ou quinze sílabas, o verso sobe a escada do soneto, mas é preciso que acenda as luzes das rimas quem sobe ao infinito. Gostei que um publicitário, jovem e moderno, buscasse o lápis bem comportado.

Jayme é um cavalheiro de muitas elegâncias, jornalista, editor e companheiro. Professa, contudo, uma sintaxe sem concessões banais. Chuta em gol com bolas de pelica. Sabe que só a leveza do espírito permite a pedagogia do soneto, porque o soneto é o único formato poético sem arestas.

O resto, como dizia Simone Weil da Ilíada, é a poesia da violência. Já o soneto é a violência da ternura.

A maioria dos sonetos da literatura universal é principalmente o soneto de amor. Ao escrever cem sonetos, Jayme percorre outros sentimentos, de cem matizes. Não se atém ao soneto de amor, mas a uma percepção bem mais ampla, que vai do Soneto da Sentença — “Porque sempre eu corcunda e você musa?” — à Fábula Falsa — “Esta terra se exibe com orgulho, exalta-se com ares de Camões”.

O amplo, em Jayme Serva, é percorrer-se do amor à política. Impossível, depois do iluminismo, petrificar-se no túmulo de Petrarca.

Nos belos sonetos dos Cem Sonetos, o Jayme consegue um rigor formal difícil de se exercer após a desordem formal consagrada pelo modernismo. Jayme insiste na simetria, no decassílabo e em rimas escaladas por um treinador ortodoxo. Um belo livro que nos ensina a reescrever, da mesma forma que, paradoxalmente, os concretistas nos ensinaram a escrever de novo.

Algumas palavras de Jorge da Cunha Lima sobre o livro Cem sonetos, pouco mais, pouco menos de Jayme Seva.

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