A literatura de Cesar Augusto de Carvalho segue um caminho peculiar, longe dos modismos de ocasião, marcada por narrativas em que o acaso determina o movimento
do mundo e o sonho invade a realidade, ou a realidade se transforma em sonho. Ambos convivem e se reforçam. É o que se vê nos onze contos deste livro Folhetim. A partir de um fato qualquer, abre-se uma fresta para o absurdo, o humor e o nonsense. A lógica do real é sobrepujada por conexões inusitadas e elos inesperados. Ali nada é sólido, tudo está por um triz. Cada história contém bifurcações que levam a outras histórias.
Essa técnica narrativa mise en abyme acaba mergulhando o leitor num torvelinho alucinante.
Os personagens desses contos são tipos com órbitas próprias, perdidos em solidão, anti-heróis apartados da máquina da cobiça e do sucesso a qualquer preço, mais voltados para a recompensa dos pequenos prazeres mundanos, ou da simples sobrevivência.
Os contos, com seus cortes e sobre posições, são bastante visuais, explorando recursos do cinema. Não à toa, Cesar Carvalho incorpora em sua experiência a de roteirista. Assim é que o conto “Flipando em Paraty”, que abre o volume, mostra um escritor na bancarrota que consegue uma oportunidade de fazer a cobertura da badalada festa literária. No conto de título cabalístico “13”, um jornalista se lança numa reportagem que investiga um caso de racismo. Em “Folhetim”, um escritor se envolve num episódio de crime cuja trama é pura alusão, revestida de sátira, ao clássico godardiano Acossado, neste que é o conto mais claramente cinematográfico do conjunto. O livro inclui ainda uma incursão pela autoficção, no conto que encerra o volume. Nela, o narrador afirma: “Todas as histórias já foram contadas, muda sóo jeito de as contar”. Cesar Augusto deCarvalho, como seus contos mostram muito bem, criou seu próprio caminho.
Paulo Lima
Jornalista e escritor
FICHA TÉCNICA
Contos
Páginas: 240
Formato: 140 x 210 mm
ISSN: 978-85-92875-91-6
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R$65.00Preço