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57 itens encontrados para ""

  • A atriz Rosa Guimarães interpreta crônica de Clara Baccarin

    Vejo o vídeo da atriz Rosa Guimarães lendo crônica que abre o livro 'Vibração e Descompasso' de Clara Baccarin Livro à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/vibra%C3%A7%C3%A3o-e-descompasso #vídeo #rosaguimarães #leitura #interpretação #crônicapoética #vibraçãoedescompasso #literatura #clarabaccarin

  • A porção de infância que nos habita

    (imagem de capa do livro 'A infância dos dias' que será lançado no dia 10 de novembro de 2017) Um resgate à criança que um dia fomos pode revelar capítulos da nossa história e ajudar na construção da narrativa cheia de sentidos que queremos contar sobre nós mesmos TEXTO Laís Barros Martins A partir de 1987 eu existia. Minha infância foi compartilhada com dois irmãos. Filha do meio, precisei aprender a ocupar essa posição tantas vezes apertada, mas incrível de ser entre. Minha mãe conta que um dia, depois de me dar banho e me trocar, foi fazer o mesmo ainda com os outros dois, como de costume. Quando acabou a tarefa, chamava, chamava por mim, e nada. Eu ouvia, mas não respondia. Estava brincando de me esconder. Uma foto registra esta história, e a minha carinha, sério, é impagável. Tenho disciplina rigorosa em não deixar que esta criança que um dia fui se esconda de modo definitivo, fuja ou seja esquecida. Sigo à risca a missão de mantê-la por perto. Ainda semana passada fui criança. Enquanto escolhia os tomates na feira, ao sentir o sol fazer festa em mim depois de um período de frio chuvoso ou quando corri ao encontro dele, me jogando num abraço gostoso. Os dias pedem a espontaneidade da graça de criança. A gente precisa cuidar deste espaço de afeto, a porção de infância que nos cabe. É urgente. O cantor Leonard Cohen também escreveu livros; em “A brincadeira favorita” (Cosac Naify), ele alerta que “conforme os olhos vão se acostumando a ver, blindam-se contra a fantasia”. A brutalidade da “adulteza”, essa força impositiva que torna tudo tão banalmente comum. Contra isso, fica aqui o meu manifesto em defesa das coisas (extra)ordinárias e como é importante recuperar e conservar a criança que ainda nos habita para evitar o desastre iminente de uma vida feita só de realidade. Redescubra o tempo das coisas Mas, “para resgatar a criança que um dia fomos, precisamos primeiro tê-la perdido”, chama a minha atenção o filósofo e educador Gabriel Limaverde, da equipe de Educação e Cultura da Infância no Alana, organização que busca a garantia das condições para a vivência plena da infância. É que eu estava tentando pensar a infância mais como um modo de ser e estar no mundo do que uma fase ou idade, e ele me ajudou a entender esse paradigma de temporalidade recuperando as raízes gregas das palavras usadas para designar o que hoje chamamos de “tempo”, chrónos e aión: “No nosso tempo adultificado, de relógios e agendas, contado cronologicamente de forma ordenada e contínua, vemos nossa criança interior como passado, portanto ela já não existe. Mas no tempo aiônico, crianceiro e brincante, nunca deixamos de ser criança. Nele, estamos sempre dispostos às descobertas como quando éramos crianças, tudo pode ser (re)feito e (re)construído. O tempo aqui não é numerável ou sentido como uma sucessão de acontecimentos, mas como encantamentos vivenciados”, explica. Para ele, esta visão cronológica marcada por uma divisão nítida entre passado, presente e futuro é que contribui para a impressão de que perdemos nossa criança interior. Assim, “recuperar a nossa criança é em grande parte exercitar nossos sentidos e renovar uma forma de experimentar a vida a partir das intensidades que sentimos, mais do que com base em calendários frenéticos”, conclui o filósofo. “É isso!”, penso. A gente não se perde no meio do caminho, continuamos sendo apenas. Para facilitar este processo de renovação periódica, uma boa estratégia a ser considerada é observar de perto as crianças de hoje, fonte de inspiração inesgotável, com acesso permitido e recomendado. Elas, que ainda são, podem nos fazer lembrar que a gente segue sendo também. Um convite, enfim, a redescobrir e provar as sensações já conhecidas como eternas novidades, mantendo aquele assombro inicial que torna tudo tão mais colorido e quase inédito. No livro de ensaios “E se Obama fosse africano?” (Companhia das Letras), Mia Couto me ajuda a entender definitivamente a infância não como um tempo, uma idade, uma coleção de memórias. Ele escreve: “A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar [...] a infância não é apenas um estágio para a maturidade. É uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós”. Cuide bem da sua história Ainda que haja sucesso em levar a vida com a presença da infância não como tempo marcado pelo tique-taque, mas como uma forma de experienciar os acontecimentos com o encanto das novidades e surpresas boas, seguimos sujeitos a transformações. Manter a criança que um dia fomos é um desafio e tanto, sobretudo neste acúmulo de passado que os dias vão nos impondo e com o peso da rotina. Mas só até a gente entender que isso tem a ver com cuidar da nossa essência. Por mais que a gente mude, e isso é bom, sempre seremos essencialmente os mesmos. Acho que a construção de um eu autêntico vem daí. O tempo vai nos moldando cada um a uma forma, e os padrões nunca se repetem. Além da ação transformadora do tempo, somos um apanhado de nossos antepassados e resultado de trocas estabelecidas com todos aqueles com quem nos relacionamos e que contribuem para o desenvolvimento do que a gente é neste dado momento, mas que pode receber nova configuração em breve. A junção de cada “eu” resulta em um todo comum feito de “nós”, uma riqueza universal que não pode ser perdida. É a isso a que se dedica o Museu da Pessoa, que tem como objetivo colecionar histórias de vida de homens e mulheres comuns em seu acervo e reconhecer que toda história tem valor e deve ser considerada um patrimônio. "[...] ouvir o outro é também uma forma de cuidado. Um cuidado que nos leva a aprender com cada história de vida e a descobrir, por trás de cada narrativa, um pouco da alma humana", diz a frase extraída de um texto em comemoração aos 25 anos do lugar. “Estamos continuamente reelaborando nossas experiências. O que define nossa individualidade, o que nos torna únicos, não é apenas nossa trajetória, mas também a forma como elaboramos nossa narrativa pessoal, selecionando o que e como contar”, expõe Lucas Ferreira de Lara, mestre em História Social e coordenador do Programa Conte Sua História do Museu da Pessoa, em São Paulo. É por isso que, para construir uma narrativa coerente capaz de imprimir mais propósito à nossa vida e que, ao ser compartilhada, possa gerar entendimento, escolhemos as palavras, reinterpretamos trechos e editamos capítulos, de forma livre e passível de alterações sempre que necessário. O historiador completa considerando que “não existe uma história de vida igual a outra, e não existe uma única história, fixa e estática, para cada um de nós”. Para ele, “contar e recontar nossa história é um exercício fundamental para nos ajudar a entender quem somos”. Nesse processo de construção das nossas próprias narrativas, o educador Gabriel diferencia como podemos agir inspirados pela medição do tempo cronológico ou por vivências: “A narrativa biográfica que costumamos criar para nossas vidas parte do lugar em que estamos hoje e entende a infância como um elemento que contribuiu para chegarmos até aqui. Vemos o nosso momento de infância com um tijolo que, somado a outros tijolos, formam a casa que construímos. Numa outra visão, menos comum, não deixamos de ser crianças. Nessas biografias, a infância não é um tijolo da nossa casa, mas a nossa vontade de construir a casa, que nunca está pronta – sempre há um cômodo ou uma mudança a fazer, uma parede para derrubar e outra para subir”, explica. Preservar a nossa história e passá-la adiante é uma forma de destacar a nossa essência que invade e perpassa a todos, o que nos aproxima e nos faz parte de um todo compartilhado. Há poesia em olhar para as pessoas e reconhecer esta história comum, porque carrega a essência que é sua e minha, mas também de todo mundo. Colecione mais experiências O ato de criação da composição das nossas vidas está em constante movimento. Depende da gente permanentemente selecionar as experiências para ir ordenando o que deve ficar registrado na memória de modo que, ao recontar de novo e de novo a nossa história, estejamos dispostos a botar aquele sorriso no rosto para passear, satisfeito. Por isso, ressignificar é um processo imperativo, que pode nos ajudar a cuidar da criança que existe dentro da gente – todo mundo tem a sua. O escritor Márcio Vassallo, mestre em reconhecer a serventia do encantamento que se manifesta no dia a dia, compartilha os truques que desenvolveu para que aquele gostinho bom de infância nos acompanhe. “Sempre careço botar reparo no olho e parar para ver tudo à minha volta, sem pressa, com assombro, perturbação, estranheza e sobressalto. Numa época em que ‘contemplar’ se tornou um verbo fossilizado, escavar brechas dentro da gente para reparar com autenticidade nas coisas aparentemente mais simples e banais é um vício irresistível”, confessa. Para ele, “ressignificar palavras” é um exercício que traz infância para sua vida. “E tudo o que traz infância para mim me tira o sono, me devolve a asa, me reaproxima da poesia que está em toda parte”. Deve ser por isso que crianças muitas vezes, ao atribuir novos significados às palavras, nos ajudam também a nos ressignificar por dentro. É que elas ainda têm a presença do descuido muito viva. Esse exercício pode nos trazer aquele centro desequilibrado que nos devolve a nós mesmos, fazendo-nos “sentir ainda mais próximos das nossas gostagens mais autênticas, dos nossos desejos essenciais, das nossas verdades mais íntimas”, aponta Márcio. Afinal, “não sou eu que mantenho o meu menino por dentro. É ele que me mantém”. Tão bonita essa ideia de troca com a gente mesmo. Ela nos lembra que tudo aquilo que precisamos está bem guardadinho dentro de nós, basta permitir que se manifeste e tome conta, soberano. Um reforço para entender enfim que a criança de ontem ainda somos nós. Hoje, com 30 anos, esta é a história que resolvi contar. Uma história sobre a menina que ainda vive em mim de olhos bem abertos, atentos espreitando o que está por vir, e cheios daquele mesmo brilho de quando eu me escondi para ser encontrada. Laís Barros Martins conserva sua porção de infância com carinho e é autora do livro "A infância dos dias" (Laranja Original). Texto publicado na revista Vida Simples, edição 189, novembro 2017. #matéria #vidasimples #laísbarrosmartins #ainfânciadosdias

  • A vida não é o Cirque du Soleil – a verdade descarada de Adriana Brunstein

    ilustração - Marcos Garuti Texto de Adriane Garcia Quando criança, fui nestes circos que armam tendas em bairros de fins de mundo que mais parecem desertos povoados. Chão de terra, poeira vermelha, arquibancadas finas de tábuas que enchem as bundas dos visitantes de ferpas. Essa foi uma das primeiras associações que fiz quando, pela primeira vez, e isso já faz algum tempo, li as crônicas/contos de Adriana Brunstein. Depois vinha o dono do circo, senhoras e senhores, anunciando o grande espetáculo. Mágicos que nos deixavam ver as pontas dos lenços escondidos nas cartolas, malabaristas que deixavam pinos caírem, mulheres lindas na falta de mulheres lindas com suas meias-calças desfiadas, animais magros e desanimados, vestidos de roupas rotas e purpurinadas, globos da morte enfurecidos de fumaça e som, que só conseguiam nos intoxicar. Por fim, palhaços que caíam, palhaços que levavam tortas na cara, palhaços que diziam a senha errada e terminavam atirados aos leões. E ríamos, ríamos muito, pois a outra opção seria chorar. Agora estamos diante deste Pancho Villa não sabia esconder cavalos. Não sabia. Não sabe. Adriana Brunstein não esconde nada e por isso rimos de seu Pancho Villa, porque ele expõe toda a tragédia dos planos que nunca, jamais dão certo e porque, ainda mais tragicamente, ele acha que desta vez, aquele cavalo atrás da árvore poderá passar despercebido e, quem sabe, ele, que depende disso, poderá ser feliz. O que dizer dessa escritora? Eu, como leitora assídua de seus textos que sou? Digo que Brunstein traz ares que sinto novos e deliciosos na prosa brasileira contemporânea. Primeiramente, traz pontos de vista de personagens femininos que se situam entre a quarta e a quinta décadas da vida, quando a beleza física padronizada ou nunca existiu ou está em decadência, quando já se está sob efeito do período da menopausa ou na iminência dele. Quando poucas ilusões restam. Depois, traz homens que se debatem nos relacionamentos sob o prisma de uma sinceridade incomum a respeito do fracasso. Os personagens de Adriana Brunstein falam aquilo que só falamos quando não há ninguém ouvindo, são um verdadeiro desastre. Tudo isso com um humor infalível e uma linguagem que já podemos chamar de estilo. Emocionamo-nos. No fundo sentimos que há mais que um choro guardado. Lendo-a, sabemos muito bem do que estamos rindo. Conhecemos bem essas quedas. Conhecemos sua denúncia, sua indiscreta confissão sobre coisas que pertencem a uma raça inteira. A queda do palhaço é universal. Seus personagens são como os personagens dos circos de infância em bairros abandonados. Há uma profunda compaixão nisso. E o que é o palhaço senão aquele que se empresta para cair, a despeito dos próprios tombos, para que possamos rir um pouco? “Ela tava lá tentando tirar a calcinha da bunda, perguntei se queria ajuda, levei uma cotovelada no olho, entrei no ônibus e alguém lá fora gritou “lincha” e alguém lá dentro gritou “bicha é você”, depois ficou todo mundo quieto pra ouvir o “olha o kit kat da nestlé, ó, é um por dois e dois por cinco, ó”, uma velha comprou, disse que tava vencido e o rapaz respondeu que “pode ver que tá no prazo, ó”, mas ela cuspiu tudo e nem viu que a janela tava fechada, e uma criança exclamou “que merda” e tomou um tapa na boca e olhou solidária pro meu olho roxo, eu respondi que daqui pra frente tudo piora e o ônibus freou com tudo e voou criança, velha, caixa cheia de kit kat da nestlé, ó, parecia reality show de suruba onde ninguém goza, nem fingir consegue, uma moça perdeu um brinco e saiu engatinhando até que ouviu barulho de zíper e gritou “sai fora, tarado”, mas não era, era alguém abrindo a bolsa pra ver se tinha quebrado o frasco de perfume, tinha, empesteou tudo e um meio bêbado acordou e pediu mais uma dose daquilo ali, enfiaram um kit kat em sua boca, ó, e ele chupou com o que o fulano que ajeitava os óculos chamou de expertise, para a moça do brinco era tudo nojento demais e ela pediu pra descer e o motorista disse que não era parada e que a “cocota que esperasse”, a criança fez cara de quem queria saber o que era cocota mas ficou calada, acho que ninguém sabia e que ninguém quer saber mais nada porque já é foda descer com a vida no ponto certo, cacete, passei dois, desci e atravessei a rua para esperar a volta mas já era tarde demais pra qualquer coisa.” *** Pancho Villa não sabia esconder cavalos Contos Adriana Brunstein Ed. Laranja Original 2017 à venda em - www.laranjaoriginal.com.br/product-page/pancho-villa-n%C3%A3o-sabia-esconder-cavalos #contos #adrianabrunstein

  • 2 poemas de Fabiana de Franceschi

    Vida que passa Só faz sentido envelhecer Se for pra ver o filho crescer Só faz sentido ver o filho crescido Se o neto já tiver nascido A vida só faz transmutar Se você não parar de sonhar Só, a vida não dá nó Sem nó Ohhhh dó A gente vira pó Florescer Quer crer para ver? fazer e acontecer? escrever e ter prazer em se reconhecer ao se ler? ter o que dizer? nascer, crescer, subverter, amadurecer e querer aprender para vencer, mesmo se vier a morrer? mesmo se vier a chover, escurecer ao entardecer você sofrer para depois torcer para embranquecer e se surpreender com o alvorecer? Socorrer um Bem-querer Transcender e ser? Há maior prazer do que viver se não for para valer? Sobre a autora: Fabiana de Franceschi, paulistana, 43 anos, mãe do Felipe e Luca, participa do grupo de escrita criativa comandado pelo prof. Gilson Rampazzo no Colégio Equipe, escreve pela necessidade de entender o que os olhos não crêem #poemas

  • Sarau Troia/Canudos na Casa das Rosas

    No dia 28 de setembro, aconteceu na Casa das Rosas o sarau que celebrou o livro 'Troia/Canudos' de Jorge da Cunha Lima, com convidados especiais: o novelista Reinaldo Moraes e os poetas Jairo Pereira, Samir Raoni e Jayme Serva. Conheça o livro 'Troia/Canudos' de Jorge da Cunha Lima no www.laranjaoriginal.com.br/product-page/troia-canudos

  • Sonetos das cem vias

    Um soneto, uma sonata, um gol de placa, são os atos mais pensados da arte. Pensaram isso, o jogador, o músico e o poeta. Quando quiseram colocar o amor num prelo sem prego, Shakespeare, Camões e Florbela Espanca, por zelo, escolheram o soneto. Vinicius de Moraes, na mais dispersa vida, foi atento ao soneto, e por dentro fez o melhor a que levou-lhe o intento.A poesia brasileira não se envergonha de seus sonetos, nem dos seus sonetistas. O eu é um dos melhores pontos de partida do lirismo e, nos sonetos brasileiros, o eu e o meu iniciais sempre indicam o percurso. Soneto não é apenas a matemática da métrica, nem a saliva das rimas, é a desordem que se ordena na beleza. Sermos clássicos nos permite sermos modernos sem o elmo parnasiano. “Amo a regra que corrige a emoção”, dizia Georges Braque. Não importa se com cinco, dez ou quinze sílabas, o verso sobe a escada do soneto, mas é preciso que acenda as luzes das rimas quem sobe ao infinito. Gostei que um publicitário, jovem e moderno, buscasse o lápis bem comportado. Jayme é um cavalheiro de muitas elegâncias, jornalista, editor e companheiro. Professa, contudo, uma sintaxe sem concessões banais. Chuta em gol com bolas de pelica. Sabe que só a leveza do espírito permite a pedagogia do soneto, porque o soneto é o único formato poético sem arestas. O resto, como dizia Simone Weil da Ilíada, é a poesia da violência. Já o soneto é a violência da ternura. A maioria dos sonetos da literatura universal é principalmente o soneto de amor. Ao escrever cem sonetos, Jayme percorre outros sentimentos, de cem matizes. Não se atém ao soneto de amor, mas a uma percepção bem mais ampla, que vai do Soneto da Sentença — “Porque sempre eu corcunda e você musa?” — à Fábula Falsa — “Esta terra se exibe com orgulho, exalta-se com ares de Camões”. O amplo, em Jayme Serva, é percorrer-se do amor à política. Impossível, depois do iluminismo, petrificar-se no túmulo de Petrarca. Nos belos sonetos dos Cem Sonetos, o Jayme consegue um rigor formal difícil de se exercer após a desordem formal consagrada pelo modernismo. Jayme insiste na simetria, no decassílabo e em rimas escaladas por um treinador ortodoxo. Um belo livro que nos ensina a reescrever, da mesma forma que, paradoxalmente, os concretistas nos ensinaram a escrever de novo. Algumas palavras de Jorge da Cunha Lima sobre o livro Cem sonetos, pouco mais, pouco menos de Jayme Seva. Conheça o livro: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/cem-sonetos-pouco-mais-pouco-menos #poesia

  • Elétrico 28 e minhas incursões por Lisboa

    Elétrico, o 28 me recebe trigueiro, como amigo distante que esperava a minha chegada. Partida em Martim Moniz, o experiente 28 desliza suave pelos trilhos e me embala até a Graça, numa bela manhã de outono. Patrono, na direção do Mosteiro de São Vicente de Fora, o elétrico chacoalha um bocadinho, diante de tamanha beleza. Desço sem demora seduzida pela arquitetura do lugar. O imponente monumento de construção clara instiga pelo equilíbrio harmonioso das formas, na roupagem maneirista e singela. Monastério com ares humanistas e suas chancelas. No frontal do edifício, logo se vê três arcos de volta perfeita, sobrepostos por três nichos de belos arremates. Seria um disparate não considerar, a beleza do altar da capela-mor, encomendado por D. João V: se vê esculturas em madeira de S. Vicente, Santa Mônica, Sto. Agostinho e S. José, além de S. Sebastião, S. Frutuoso, S. Teotônio e a Virgem. Valham-me santidades! Na portaria, belos azulejos alusivos à tomada de Lisboa e Santarém. Depois de um amém, atrás do mosteiro, cheguei ao Campo de Santa Clara que, apesar da santidade, não impediu que, terças e sábados, se realizem a Feira da Ladra, onde se compra e vende de tudo. Quando me apercebo, o bonde vem em minha direção e, pelo sorriso do condutor, minha primeira gafe com louvor. Ao subir, sorriu e me disse: pra que o embaraço de esticares o braço, não há parada que deixe, ah esses turistas! Sorri de volta, sem demora porque, lá fora, impacientes, outras gentes esperavam acesso. Ajeitei-me no banco de madeira e parti contente para a Alfama, queria me perder nas suas vielas e histórias paralelas, para viver a minha própria: Alfama é um alegre achado! As ruas e praças, em estilo medieval, abrem um portal no tempo, para quem tem olhos de ver. Enquanto me entranho neste labirinto medievo, paro e descrevo a sensação de estar ali: sou uma folha ressequida pelo sol calorento, mas revigorada pelos ventos marítimos. Alfama tem o ritmo de um coração fadista, que não distingue turista ou nativo. Apenas sobrevive às mudanças dos séculos, preservando sua identidade e canções. Bairro festivo a desvendar, somente, aos mais atrevidos e resistentes. Suas infindas escadas e vielas, inclementes, revelam uma jóia incrustada e a melhor das recompensas: sardinhas assadas, vinho e fado! crônica de Samara Porto - Lisboa - Set/15 www.laranjaoriginal.com.br/product-page/primevo

  • 'Não é o silêncio quem passa' - poemas de Bruno Prado

    Escritor Bruno Prado Lopes lança livro em São Paulo Autor publica poesias inéditas pela Coleção Poetas Essenciais, da Editora Laranja Original. Trabalhar a linguagem, manipular a palavra e transformar a experiência estética do leitor. Essas são algumas características do poeta Bruno Prado Lopes presentes no livro Não é o silêncio quem passa. Publicado pela editora Laranja Original, a obra contém 94 poemas que transportam o leitor por uma poética concisa e fragmentária, que articula os sintomas e dilemas do contemporâneo. Os poemas do livro revelam a busca do autor em explorar os limites entre o discurso e o vazio. Por isso, cada passagem, cada verso, cada rima que se coloca, são carregadas de silêncio e, ao mesmo tempo, repletas de significação. A linguagem é a própria matéria-prima dos poemas e, por si só, se impõe sobre o branco da página e o caminho da escrita. “O que se experimenta nessa faúlha de falhas nada mais é do que uma pronúncia vazia – de um transeunte disperso, absorto, a relatar senão um instante de imagens”, observa Bruno Prado Lopes na abertura o livro. Não é o silêncio quem passa é o mais novo trabalho editorial do autor, sete anos após o livro Fraturas (Selo Orpheu), lançado em 2010. O autor teve seus textos publicados em antologias, como: Conto Brasileiro Hoje (RG Editores) e Poesia Sempre (Biblioteca Nacional). Também participou como poeta convidado na exposição “Mesmo nos momentos mais silenciosos” do fotógrafo Gabriel Felsberg (São Paulo, MuBE). Além disso, seus poemas foram publicados em diversas revistas, do Brasil e de Portugal, especializadas em literatura. Não é o silêncio quem passa faz parte da Coleção Poetas Essenciais. A ideia dessa coleção é apresentar para leitores brasileiros, autores que divulgam seus versos nas redes sociais, têm um trabalho poético relevante, mas ainda não se consagraram como escritores; muitos deles, estreiam seus primeiros livros de poemas nesta coleção. São poetas essenciais porque tocam o humano, expõem a alma/substância interna/vísceras em versos. São poemas em que o conteúdo poético fica à flor da pele, acessível aos corações. São poemas em que a forma é instrumento para desnudar a alma, para revelar o íntimo; por isso essenciais. Nessa coleção, a essência precede a existência. No entanto, o poema (corpo) existe para que a essência saia do silêncio. Poema que abre o livro: Aqui, onde não pertenço, onde não há identidade ou esquecimento — onde as palavras, sem a violência do vento, tocam-se no vazio do pensamento digo que anoitece — e acende-se a senda no silêncio insisto no percurso, renomeio as margens, os desvios; os lapsos do tempo — absorto, busco a origem: o ponto-de-partida, o destino que desconheço Bruno Prado Lopes Não é o silêncio quem passa está à venda no link: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/n%C3%A3o-%C3%A9-o-sil%C3%AAncio-quem-passa

  • Troia/Canudos: a origem da criação poética na agenda da vida

    No dia 7 de agosto, o jornalista e escritor Jorge da Cunha Lima falou sobre poesia, processo criativo, referências literárias, acontecimentos de sua vida pessoal e profissional na Casa do Saber em São Paulo. O poeta, que teve um intervalo de 40 anos sem publicar poesia, volta ao cenário poético brasileiro com um livro de peso e de leveza: 'Troia/Canudos' (editora Laranja Original, 2017), que reúne poemas do mais alto nível literário que ele escreveu nos últimos anos. Confira as fotos do bate-papo na Casa do Saber. Livro à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/troia-canudos #jorgedacunhalima #poema #poesia #troiacanudos

  • Primevo - uma poesia que maneja significados e significantes

    Primeiro livro de poemas da escritora Samara Porto, Primevo, integra a nova Coleção Poetas Essenciais, da editora Laranja Original. Reúne 113 poemas, escritos e garimpados na sua adega sensorial, propiciando uma variedade de experiências poéticas. Samara revela, na biologia de seus poemas, um ecossistema de paisagens melódicas, sem métricas rígidas ou temas impossíveis, mas bastante humanos. Flagra no instante poético, as alegrias, o amor, os dissabores, conflitos e o lado brincante da vida, com um olhar desperto e maduro. Uma poesia que maneja significados e significantes, para instigar de forma sensorial. Toca para ser tocada. Lê para ser lida. Canta para ser decantada e recitada em voz alta. Ou sussurrada, enquanto nos envolve nas vibrações que produz. Aquela que povoa os cafés por onde escreve. Que traduz suas experiências em Lisboa e as madrugadas, de quem se atreve a provocar as horas e os sentidos. A escritora também usa de um humor sutil, para sensibilizar o leitor e apresentar seu processo criativo. Fazer brotar um sorriso, em meio a uma poesia reflexiva: Quanto vale um sonho nesse mundo? O que cobrar a padaria nossa de cada dia? Quando a poesia pulou a minha janela, me encontrou desenxabida sentada num banquinho. Sobre Samara Porto Samara Porto é paulistana da gema. Nasceu e cresceu no bairro do limão, Zona Norte. Junta à gema de sua origem, açúcar e um cálice de vinho do Porto, bate delicadamente, para extrair doçura e sabor. O sobrenome nunca é um acaso, balbucia. Trocou o limão pela canela e polvilhou, generosamente, sobre o Zabaione de sua vida. Aproveita a clara batendo em picos firmes. Aprendeu que a vida é mais do que suspiro. Ela nos pede que tenhamos estrutura e sensibilidade. Talvez, por isso, se viu fisgada pela literatura, desde que aprendeu a escrever. Gostava de fuçar dicionários e descobrir palavras e significados novos, enlouquecendo os professores do primeiro ciclo. Na adolescência, apaixonou-se por Pessoa, Bandeira, Vinicius, Lispector, Machado, Drummond, Gregório de Matos e até Padre Antonio Vieira. Rendida pela literatura, abraçou o sacerdócio da escrita em silêncio. Foi amealhando versos. Graduou-se em Comunicação Institucional e pós graduou-se em Empreendedorismo. Completa: empreender a si mesmo é a maior das empresas e nenhuma instituição acadêmica pode ensinar isso. Só a vida que nos requer autocompromisso, foco e fluidez. Conclui: por isso, escrevo, para ser veio. Até porque, já me sopraram: foi para isso que você veio. Contatos: artificedaspalavras@gmail.com www.facebook.com/samaraporto.artifice Livro à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/primevo #primevo #samaraporto #livro #poesia #poemas

  • No livro 'Jardim de Plurais' o amor é a representação de tudo

    Que estranha alquimia é essa / que despreza conceitos, / passa por cima de qualquer preconceito / e segue suas próprias leis? / Hoje, não é preciso questionar passado nem futuro / porque hoje o tempo parou... / Hoje... Só hoje... A leitura desses versos do Poema “Hoje” de Alice Yumi Sakai em seu livro de estreia na literatura, “Jardim de Plurais” nos faz de alguma forma rememorar Florbela Espanca em sua intensidade amorosa e ainda Hilda Hilst com seus poemas sobre a incompletude amorosa em busca de completude. Mulheres que versejaram o amor de maneira aberta, sem peias, assumindo seu sentir em todos os matizes. A medida que prosseguimos na leitura também recordamos, pelo lado masculino, de outros nomes que pensaram o amor: Octávio Paz em seu último livro publicado “A chama Dupla, Ensaio sobre Amor e Erotismo”, e o grande Pablo Neruda de quem a autora publica estrofe de um de seus poemas a título de epígrafe ao livro. São muitos os cultores do amor... Alice assume a imagem da mulher na condição de sujeito ativo elaborando poemas carregados de feminilidade, desejo e erotismo, em que o amor, a paixão, a dor da rejeição e mesmo a morte do sentimento são suas facetas mais recorrentes. Uma pluralidade de matizes repetimos, desse sentimento que move a humanidade desde sempre, e que por mais que o façamos nem sempre encontramos definição clara: Amar, / nau à deriva. / Senti-lo é domínio do abstrato, / razão perdida. / Estar só nos altos e nos baixos, / plano de um futuro provisório, / ilusório. / Delírio de bêbado cambaleando nas ideias, / sonhando que ainda possa existir, / nas mãos trêmulas tal qual adolescente, / algo que só existe nos corações puros./ Devaneios, indagações, vertigem, / em compasso de espera há esperança,/ sofrimento de quem vive em descompasso, / pela distância absoluta de almas paralelas. / Como o céu e o mar, / tão azuis e, no entanto, / tão distantes... Poema “Nau frágil”. A pluralidade de enfoques sobre este sentimento na poesia de Alice foca na realização do desejo, no amor efêmero, ainda que intenso, no amor abnegado ou o incondicional. Alguns versos de erotismo contido, outros de renúncia, outros ainda da mais completa solidão. Os pés... Os pés cansados, / arrastam num melancólico esforço, / aumentando o desconforto, / descompasso de um tempo que passou / trazendo solidão. / É uma vida inteira que ficou para trás. Poema “Passos lentos”. Ficamos com a leitura de que o grande protagonista deste livro é o amor tecido ao longo do tempo, trabalhado via sentimento e razão em suas variadas facetas. As mais cruéis delas a da desilusão via traição, ou do menosprezo mas que enseja também o reerguer-se: E, no meio desse labirinto de mentiras por onde andei, / ainda assim consegui plantar poesia. / Ela floresceu... / Mesmo que tenha sido apenas nos meus sonhos, / foi assim de corpo e alma que / floresceu uma flor chamada amor. Poema “Uma flor”. Sem duvida o amor é a força motriz da humanidade. Causador de dores, sofrimento, tristeza, agonia, mas também fonte da felicidade suprema, um caminho para se chegar “à divindade” do existir. Já falamos de de Octávio Paz. Para ele os sentidos nos comunicam com o mundo e, simultaneamente, encerram-nos em nós mesmos: as sensações são subjetivas e indizíveis. O encontro erótico começa com a visão do corpo desejado. Vestido ou desnudo, o corpo é uma presença, uma forma que, por um instante, é todas as formas do mundo. Mal abraçamos essa forma, deixamos de percebê-la como presença e a temos como matéria concreta, palpável, que cabe em nossos braços e que, não obstante, é ilimitada. Ao abraçar a presença deixamos de vê-la e ela própria deixa de ser presença. Dispersão do corpo desejado: vemos só uns olhos que nos miram, uma garganta iluminada pela luz de uma lâmpada, o brilho de um músculo, a sombra que se avizinha. Cada um desses fragmentos vive por si só, mas refere-se a uma totalidade do corpo. Esse corpo que logo se tornou infinito. O ser que deixa de ser uma forma e converte-se numa substância disforme e imensa na qual, ao mesmo tempo, nos perdemos e nos recobramos. Nos perdemos como pessoa e nos recobramos como sensações.Também é a experiência da perda da identidade, dispersão de formas em mil sensações e visões, queda numa substância oceânica, evaporação da essência. Mistura da terra com o céu, a grande e deliciosa subversão! “... na sua boca o Amor era tão doce, tão doce e ecoava pela eternidade”. Poema “Pétalas. A autora lança mão também de suas habilidades artísticas e faz da palavra instrumento de denúncia social, de revelação das mazelas que assolam a sociedade incluindo aí também (o capitalismo contemporâneo que mercantiliza até as nossas almas), de que são exemplos os poemas “Pós-moderno”, “Reciclar vidas” e “Ratos e restos da infância” Para esta poeta, o amor é a representação de tudo: o lugar, a síntese da realidade corporal, a terra em que vive, os lugares por onde anda, cidades, ruas. Enfim o amor não é direcionado exatamente a um ser, mas a tudo que a rodeia”. Neste sentido, sua interpretação profunda sobre o amor nos diz que o mundo, criação do infinito amor absoluto, é a morada dos homens e, como tal, lugar em que o confronto com as diferenças ou com o outro deve ser transformado em encontro, senão de amor (no sentido pleno), pelo menos, de tolerância e de respeito, sentimentos que também espelham a “lei” do amor. No poema “Singular” a autora exprime como plantou, adubou e colheu as flores de seu “Jardim de plurais” em 118 poemas: Recolher, adormecer, esconder do frio, / até sentir o sol da primavera / e poder rever as cores das flores, assim esquecer as dores de um amor, / houve um verão. / Falas do amor em versos, / entre tantos plurais, / e no entanto um amor tão singular...” Livro: Jardim de plurais – Poesia, de Alice Yumi Sakai. Coleção Poetas essenciais; V. 1. Editora Laranja Original, São Paulo, 2017, 156p. ISBN 978-85-92875-08-4 à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/jardim-de-plurais Saiba mais sobre a poeta Alice Yumi Sakai (*) Krishnamurti Góes dos Anjos. Escritor, pesquisador, e crítico literário. Autor de: Il Crime dei Caminho Novo – Romance Histórico, Gato de Telhado – Contos, Um Novo Século – Contos, Embriagado Intelecto e outros contos e Doze Contos & meio Poema. Tem participação em 22 Coletâneas e antologias, algumas resultantes de Prêmios Literários. Possui textos publicados em revistas no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro publicado pela editora portuguesa Chiado, – O Touro do rebanho – Romance histórico, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional - Prêmio José de Alencar, da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance.

  • Apresentação do livro 'A Viagem', poema de Charles Baudelaire traduzido

    Na noite de 7 de julho, a editora Laranja Original lançou o livro 'A Viagem' no anfiteatro da Aliança Francesa de São Paulo. O livro reúne a tradução do poema A Viagem de Charles Baudelaire feita por Alexandre Barbosa de Souza, notas explicatórias e comentários do tradutor e imagens aleatórias que ilustram e trazem sensações à leitura do livro. O livro, todo em tons de laranja e roxo, tem uma edição linda que foi apresentada juntamente com a leitura em português e francês na noite do último dia 7. Saiba mais sobre o livro 'A Viagem' e sobre o tradutor em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/a-viagem

  • Lançamento do livro 'Eletrocardiodrama' de Germana Zanettini na Casa das Rosas

    No último dia 10 de maio, a Casa das Rosas foi palco do lançamento do livro 'Eletrocardiodrama' da poeta gaúcha Germana Zanettini. Com muito orgulho, a editora Laranja Original editou e publicou o primeiro livro dessa renomada jovem poeta. A noite de lançamento foi uma festa de encontros da poesia contemporânea paulistana. 'Eletrocardiodrama', primeiro livro individual de Germana Zanettini, já nasceu poeticamente maduro: nos últimos anos, a autora tem sido selecionada em concursos literários de expressão nacional e tem diversas participações em antologias, jornais e revistas literárias. Os poemas de Germana também podem ser encontrados em suportes menos convencionais, tais como: trens, ônibus, museus, teses de mestrado, agendas, camisetas e no próprio corpo da autora, nas fotografias de seu projeto Poesia na Pele. O livro reúne poemas consagrados e inéditos. Conheça mais: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/eletrocardiodrama Abaixo, um gostinho de como foi essa linda noite poética: #poemas #poesia #lançamento #eletrocardiodrama #germanazanettini

  • Festa de Lançamento do CD Lavar a Alma

    A alegria tomou conta da noite de lançamento do CD Lavar a Alma. Um álbum lindo de poemas musicados! Confira as fotos! Sobre o álbum: O álbum ‘Lavar a Alma’ foi todo inspirado e composto sobre os poemas do livro 'Instruções para Lavar a Alma' da escritora e poeta Clara Baccarin. A ideia surgiu do músico e escritor Filipe Moreau, que percebeu muitas melodias nos poemas de Clara e começou a brincar com o violão e a colocar acordes nos versos livres da escritora. Da beleza que surgiu nesse inesperado encontro – apesar que nada novo, já que poesia e música sempre andaram juntas, mas inesperado, pois os poemas muitas vezes prosaicos de Clara, pareciam não serem feitos para o formato de canção – o trabalho foi tomando corpo e deixando de ser brincadeira, agregando força de músicos de peso (ou leveza). A voz doce e a interpretação magnífica da cantora Luciana Barros deram asas e verdade às canções que foram surgindo. E a sensibilidade, o talento musical e a garra empreendedora de Cauê Dok trouxeram a vibração linda que você pode ouvir da primeira à décima terceira faixa do CD. Compondo belamente tudo isso e levando para um plano além, os músicos: Percio Sapia (bateria e percussão), Cauê Dok (violão de aço, de nylon e guitarra), Itacyr Bocato (trombone), Paulo Israel (baixo acústico e elétrico), Filipe Moreau (piano), que já se conheciam de parcerias anteriores, instrumentaram com muita química e alegria a delicadeza dessas canções femininas. Tudo isso foi embrulhado pra presente pelo lindo projeto gráfico da designer Marina Oruê e pelas fotos de Douglas Garcia. O que você vai experimentar são 13 faixas super femininas mostrando o melhor da MPB, com tons de Blues, Reggae, Rock, Samba... onde a boa poesia encontra a música de verdade. Venda pelo link: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/cd-lavar-a-alma #música #poesia #CD #álbum #lavaraalma

  • Um livro inspirado na força do carnaval de rua

    O renascimento do Carnaval de rua de São Paulo inspirou jovens escritores a botar na rua um bloco diferente: uma coletânea de contos inéditos sobre a folia. “Toda boa história precisa de um evento que provoque uma transformação nos personagens. E nada melhor que o Carnaval para fazer isso”, destaca Raphael Guedes, organizador do livro e ritmista de vários blocos do Rio e de São Paulo. Composta por 16 contos e 6 narrativas curtas, a publicação é fruto do trabalho de 12 novos autores cariocas e paulistas, selecionados pelo organizador e pelo editor e escritor Luis Vassallo ao longo do segundo semestre de 2016. “A gente procurou autores com um olhar contemporâneo sobre o Carnaval. E escolhemos textos que fugissem dos estereótipos e dos enredos fáceis. Os contos do livro tratam de conflitos emocionais densos. Por outro lado, eles estão entremeados por 6 narrativas curtas e leves que traduzem o espírito bem-humorado e festivo que o Carnaval igualmente possui”, completa Vassallo, também responsável pela capa e pelo projeto gráfico do livro, a ser lançado pela editora Laranja Original. Entre os conflitos emocionais tratados no livro, há a relação de duas amigas distantes que se encontram para ver um bloco passar, em Descer a Augusta, os delicados sentimentos de um filho para com seu pai carnavalesco, em O Samba e o Silêncio, e o amor entre uma senhora e o bloco Gigantes da Lira, em A janela que abre alas. A identificação com o Carnaval tão pouco é consenso entre os personagens dos contos. Em Temporal, o protagonista pragueja contra a folia antes de ser transformado por ela. Outras histórias se passam longe da avenida, como A Pirueta dos Infelizes, que retrata dois agentes da censura que divergem sobre as intenções de uma letra de amor. O livro também fala do amor gay (A última fantasia), do amor traiçoeiro (O diabo e a morena), do amor erótico (Alalaô). “Mais do que sobre Carnaval, é um livro sobre as emoções que essa festa brasileira provoca. E vai provocá-las nos leitores também”, resume Guedes. Amores Carnavais também apresenta o trabalho autoral dos fotógrafos Erica Modesto e Mário Águas, ela do Rio, ele de São Paulo. Com tiragem inicial de 1000 exemplares, o livro tem preço de capa de 29,90 reais e já está à venda pelo site da editora: www.laranjaoriginal.com/loja. Sobre os autores: Adriano De Luca: Jornalista e escritor, sócio da Grappa Marketing Editorial, tocador de rebolo, reikiano e pai do João. Ana Paula Dugaich: Nunca foi foliã, mas coleciona histórias de amores e outras relações passageiras. Está lançando um livro infantojuvenil pela e-galaxia. Participa do coletivo literário Djalma. André Zamboni: Natural de Pedreira, no interior paulista, é editor há dez anos. Especialista em jornalismo científico, publicou trabalhos em revistas da área. Escritor, teve contos selecionados para antologias pelo Salão de Humor de Piracicaba. Atualmente vive em São Paulo. Eduardo Guimarães: Atua como editor e já lecionou História e Geografia na Educação Básica. Escreve sobre temas candentes do mundo contemporâneo em seu blog e procura, a passos um pouco lentos, publicar sua primeira coletânea de contos chamada A morte e o silêncio. Fabiana de Franceschi: Paulistana, mãe de dois meninos, casada, advogada com artigos publicados em revistas da área, mas adora escrever crônicas por aí. Fernanda Machado: Mantém há 9 anos o blog Palomices e faz parte do coletivo literário Djalma. Já rodou o Brasil como assistente de Cathleen Miller, autora do best-seller Flor do deserto. Luis Vassallo: Paulistano, atua como designer gráfico. Publicou os livros À beira do lar (contos), A grande viagem do conhecimento (juvenil), ambos pelo Selo Off Flip, e O livro das portas (infantil), pela Editora Patuá. Seu primeiro livro possui contos premiados em alguns concursos literários. Gabriel Pondé: Compositor, jornalista e escritor. É Flamengo e União da Ilha desde 1981. Guilherme Figueira: Redator publicitário e escritor. Em 2015, lançou o seu primeiro livro, Tantos anônimos e um ou outro com certidão, com 50 pequenos contos escritos em prosa poética. Gustavo Vilela: Tem 10 anos de carreira como redator publicitário em agências no Rio, São Paulo e Lisboa. Em 2014, lançou o livro infantil O menino que tinha tudo. Atualmente, prepara seu segundo livro e também atua como roteirista. Raphael Guedes: Estudou literatura na Universidade de São Paulo e na University of Arts London, trabalhou em festivais literários como Flip, Bienal do Livro e Tarrafa Literária e é fundador e organizador do Bloco Casa Comigo. Renato Malkov: Formado em psicologia pela Universidade de São Paulo, começou a escrever durante os anos de graduação. Atualmente, mantém um blog pessoal no qual publica contos, poesias e fotografias. Amores Carnavais - à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/f635921c-b6c3-0f1b-e57c-40b0a8e13288 #contos #carnaval #carnavalderua #livro #fotografia #coletânea #amorescarnavais

  • 'Fica a vontade' - leitura dramática de Paula Cohen

    Ilustração - Flavia Erenberg A atriz e escritora Paula Cohen interpreta um de seus poemas do livro Vou comer brilhantes para ver se quebro um dente, publicado pela editora Laranja Original. O livro está à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/5b5aa1b7-bbb5-e890-104f-0aa025c754c8 FICA A VONTADE Paula Cohen entre as minhas partes você poderia passear livremente passe livre no meu parque de diversões escorregando na minha pele trêmula feito neve quente que derrete girando as minhas ancas em looping quadril partido na força dos teus dedos bate bate de bocas cravando dentes no meio da minha coxa qual desenho estampa próxima tendência da velha estação deixando seu vulcão entrar em trabalho retardando a minha explosão dominando o tempo toureando provocando meus credos meus medos o avesso do amor as dores que eu ainda não senti a euforia que ainda não me fez gritar te deixo livre como se a liberdade fosse um aval que alguém pudesse te dar como um presente fica a vontade como em um restaurante que você pega tudo e paga preço fixo pega à vontade eu quero pegar você você sabe te pego avisado visado visando o que eu preciso que é pouco mas não superficial eu quero pegar você em alguma superfície uma borda vibrar as suas placas tectônicas rachar a sua estrutura falta de ar de tanto vento vem aqui fica fica a vontade sobe neste carrinho carinho aperta o cinto fica a vontade levanta os braços vamos descer montanha #poesia #poema #paulacohen #laranjaoriginal #livro

  • Sheila Hafez fala sobre seus contos eróticos

    Ilustração - Caio Borges Clique no vídeo acima e assista nossa autora, Sheila Hafez, falando um pouco sobre o seu recém-lançado livro de contos eróticos - 'de A a Z, eróticas' - na cidade de Ribeirão Preto - SP. Sobre 'de A a Z, eróticas': Sheila Hafez conduz um passeio que começa em A e vai até Z, passando pelas curvas, lombadas, vales e picos do erotismo feminino. Como se sabe, as mulheres levam, junto com o sexo, uma completa e complexa bagagem de sentimentos, emoções, temores e euforias. Uma ruguinha pode pôr a perder uma vida de autoestima, uma palavra mal entendida torna-se fonte caudalosa de mágoa, outra palavra, chula, ao pé do ouvido, pode ser o primeiro degrau do paraíso. De A a Z, as mulheres dentro de Sheila buscam o filho na escola, fazem compras, bebericam, viajam mentalmente, tudo entremeado por sexo, ora pensado, ora feito, ora ousado, ora papai-mamãe. A cada linha, enquanto o universo feminino fala, transpiram aromas e idealizações, sabores e ressentimentos, texturas e alegrias, imagens e esperanças, paladares e expectativas, sentidos e sentimentos. O A a Z de Sheila alfabetiza nossa pele. Compre o livro aqui: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/b6ff3eee-ffa7-ae82-eaa9-1ad758fd6458 #sheilahafez #livroerótico

  • As várias faces de Eva em Paula Cohen

    “¿Qué máscara es la que estás usando?” Pergunta-nos um verso do poema – La carboneria –, que consta do livro de poemas “Vou comer brilhantes para ver se quebro um dente”, da atriz e escritora Paula Cohen – Editora Laranja Original – SP – 2016, 31p – *Ver abaixo. Depois de um franco convite ao amor desenrolado, liberto, sincero e profundo com que a autora abre o volume (poema Fica a vontade), algo vai, sorrateiramente, se insinuando se mirarmos o conjunto sob o ponto de vista do sentimento. Parece-nos que as sucessivas desilusões, a coleção de desencontros amorosos (que é de fato como a vida é), revelam um grito de desabafo: “...tradição e traição têm a mesma raiz um sopro de liberdade sem culpa no coração de quem sempre se priva” – Poema Vênus em Áries; Ou, “...uma hora dessas você aparece como se nunca tivesse sumido como se não houvesse sempre mentido como se o tempo não fosse sua testemunha de acusação” – Poema Código de farra. (ilustração - Flavia Erenberg) O estilo de Paula Cohen faz cair máscaras e lembra em certa medida a Clarice Lispector de “Onde estivestes de noite” (de 1947), no qual declara abertamente: “O meu jogo é aberto: digo logo o que tenho a dizer”. E assim, vamos deparando-nos com uma verdadeira tempestade cerebral (siento el calor de la carne cruda que vive debajo de mi piel) onde Paula revela a nota aguda de seus transes líricos expressos em composições formais nada ortodoxas, que admitem realidades outras para além do mistério oclusivo da personalidade. Assistimos a entrada em cena de personagens desmascaradas. Aquelas que se insurgem contra a coisificação do ser em meio a esse esgotamento do amor ilusório e iludido que grassa a torto e a direito. “.....perdi a fome a cor o nome a porta perdi o que não se acha fácil perdi o ser que me habitava perdi o tempo cada instante” – Poema Sem procurar. Ou as caras e bocas falsas do “amor” assumidamente prostituído: “não casou não acredita em convenções antigas embora leia e releia o velho testamento já fumou a Bíblia fica mais perto de Deus é assim que ela sente essas coisas vive fantasiando suas trepadas póstumas queria muito dar para o santos provar o sexo dos anjos servir de ambrosia oferenda de si” – Poema Dignidade. E semblantes que descortinam, contemplam e assimilam a maturidade: ... tenho atravessado oceanos paredes muralhas portais pensado mais falado menos” – Poema Raio X. E ainda as frontes daquelas que tem a plena consciência do poder que possuem de responder à altura a ultrajes amorosos como o expresso no poema “Se você quiser”. Senhores tremei, porque é fato inconteste: mulheres ultrajadas destroem impérios. Vale a pena ler e reler. Amorosas, sedutoras, carentes, desiludidas, histéricas ou maduras. Aquelas que não se acovardam diante da vida, que vão à luta, enfrentam os desafios de ser mulher numa sociedade preconceituosa e machista, e quebram os protocolos da imagem construída, subvertendo a ordem e o pensamento arcaico. Assim as várias faces de outra Eva (não aquela coisa copiada e submissa que foi tirada de uma costela) em Paula Cohen que, com seu estilo incomum, flutua, voa na inspiração com as asas da liberdade. E como voa! Não resistimos em transcrever um dos mais belos poemas do livro. DIAS TÃO ASSIM não mais do que precisava um cigarro em uma mão um baygonna outra inflamável jeito de ver as coisas dramática veia aorta gasta de tanto fluir de tanto mandar recado entre células sintaxe de relação bombeia um coração só enquanto eu carrego a cesta de dúvidas para o lobo que mora aqui dentro de favor tudo muito bem embalado no vácuo que nos conserva estranha cara a minha estranhas questões profunda solidão em mim lança perfume de matar baratas um gole seco de spray numa tragada inflamável. Novembro/2016 O livro está à venda pelo link: www.laranjaoriginal.com.br/product-page/5b5aa1b7-bbb5-e890-104f-0aa025c754c8 Paula Cohen quem é? Nascida em 1974, em São Paulo, é de família uruguaia. Formou-se em Artes Cênicas pela Escola de Arte Dramática EAD-USP, e também em Jornalismo, pela FMU. Vem sendo uma das atrizes mais atuantes do teatro paulistano, e nos últimos anos ganhou bastante destaque na televisão e no cinema. No teatro já representou mais de 30 peças. Recentemente esteve em cartaz com ‘As lágrimas quentes de amor que só meu secador sabe enxugar’, solo dirigido por Pedro Granato, que divide com ela a autoria. #lançamento #poesia #poemas #PaulaCohen

  • De onde vem a esperança? Vem debaixo do barro do chão.

    (foto: Dimitre Lee) Dentre as características da pós-modernidade literária no que concerne à criação artística, Proença Filho elenca: uma dimensão experimentalista, a utilização de intertextualidade, o esgarçar das fronteiras entre a arte erudita e a popular e um ecletismo estilístico que mistura várias tendências e estilos sob o mesmo nome. É aberto, plural, e muda de aspecto se passarmos da tecnociência para as artes plásticas, da realidade palpável à filosofia, da história para o hodierno. “Outras Paragens”, romance histórico-poético de Filipe Moreau (Editora Sempiterno, Jaboticabal-SP, 2016, 512p.) se filia a esta classificação. Amparado em pesquisa de Maria Laura da Silva Telles que se intitula: “Ser tão antigo: fragmentos de uma história de família”, e em farta bibliografia, Moreau segue as pegadas do italiano Antônio Tomei Mariani (1734-1817) que em 1760, aos 26 anos portanto, chega às paragens do imenso sertão da Bahia (boa parte do qual pertencente ao clã dos Garcia D´Ávila). Tomei viaja pelos sertões, se ambienta, estuda a natureza selvagem da região, compra fazendas, cria gado, se estabelece como um dos primeiros moradores da Vila da Barra do Rio Grande (um dos inúmeros povoados ribeirinhos criados ao longo do rio São Francisco), e, naturalmente, casa-se e gera sua prole. Esta a espinha dorsal do alentado romance que investiga desde meados do século XVIII a vida e sobretudo a descendência do genovês. Paralelamente aos acontecimentos históricos de nossa jovem nação vemos a trajetória e atuação dos Tomei Mariani. Mas não é só. Há mais. (O escritor Filipe Moreau) Filipe Moreau tem uma particularidade que muito interessa à estética pós-moderna: sua relação com a música. A narrativa bebe na fonte de letras de músicas revelando a ocorrência de multiplicidade de discursos e estimulando a literatura a entrar em contato com outros sistemas semióticos, aumentando o grau de hibridismo da narrativa ficcional. Essa estrutura híbrida – mescla de gêneros pouco comuns em um romance tradicional, a forma fragmentada da composição, a alternância de narradores, a inclusão de ilustrações e fotografias como elementos sugestivos fazem de “Outras paragens” um típico exemplar da literatura pós-moderna brasileira. E o autor joga com todos esses elementos de forma a revelar uma multiplicidade de perspectivas e possibilidades críticas. Havemos de salientar ainda, que a maneira como o romance foi concebido revela certa disposição de pensamento que suplanta a clássica concepção de História (mestra da vida com seu repertório de exemplos), e passa a acreditar que se pode encontrar um telos (ponto de caráter atrativo) que encontra retrospectivamente um sentido para a história. Como? Sugerindo que mesmo os acontecimentos mais caóticos podem estar contribuindo para a realização de um objetivo que só a posteriori se revelará no tempo-espaço, pois tudo está em nosso planeta intimamente relacionado. Ieda Lebensztayn que assina a orelha da obra bem salienta: “Adentrar um espaço e dar-se conta de que suas paredes, as plantas e os antecedentes dos animais nele presentes recebera, o olhar e os cuidados de pessoas remotas, porém tão próximas em seus sonhos, conflitos e angústias: essa a poesia que atravessa Outras paragens”. O autor joga também com um anacronismo proposital, cheio de intencionalidades ao incorporar técnicas do disfarce na arte literária, incumbindo-se de emprestar ao leitor elementos de confrontação de ideias convencionais e modelos de interpretação do mundo, induzindo-o ao debate e a crítica. Ótimo! Horizontes existem para serem devassados, alargados. Vamos ao texto. Duas passagens apenas sobre o tempo, esse senhor dos destinos. (Ilustração - Gabriela Brioschi) “E Tomei ouve agora uma frase na voz do jesuíta, ainda no tempo em que fizeram juntos a longa travessia [1760] pelo sertão, para chegar ao São Francisco: - E pode-se pensar que só existe mesmo o presente, sendo todos os outros tempos o seu prolongamento de dentro da memória… Mas também que ele não exista – se formos pensar cientificamente – , não passando de um ponto de equilíbrio, puramente abstrato, entre passado e futuro...” p. 176. E o tempo passa e passa, até que mais adiante, um seu descendente, Antoninho, por volta de 1915, tem um sonho e neste, alguém lhe sopra: “- E tudo que se desloca – e tudo sim se desloca, o tempo todo, assim como o próprio espaço e seu observador: tudo em um espaço-tempo que está junto com ele, nele e é dele… –, como se deve lembrar, está dentro de um tempo que é variável, e por isso pode ser chamado de quarta dimensão. Aqui mesmo, onde se ocupa o espaço de uma casa, infinitas (ou tantas fragmentações como se possa dividir o tempo…) coisas já passaram, em um “agora” de plantas, insetos, dinossauros, índios, bandeirantes paulistas, e outros mais recentes...” p. 423. Essas e outras provocações importantes são feitas no romance. Como se vê, não se trata somente de uma história familiar. Paul Ricoeur afirmou certa feita que a “finalidade de toda forma narrativa é contribuir à compreensão de si”. E, seguindo essa linha, podemos pensar que este romance é uma narrativa que de certa forma, discorre sobre nós mesmos e pelo qual haveremos de nos compreender melhor. Do século XVIII ao XXI (contando de Antônio Tomei ao próprio autor, ele mesmo um descendente), desfila ante nossos olhos um mosaico de nossa história mestiça com traços dos diversos elementos que a compuseram e onde está gravado, para além da saga familiar, certas concepções existenciais – atente-se para os questionamentos sobre a sabedoria na obra –, conferindo por vezes, e isso é importante frisar, um senso de protagonismo histórico de nosso povo. Aquela ideia de que nossa constituição cultural, por mais múltipla que possa ser, é também o que a torna única e unifica. “Outras paragens” sugere, se não confirma, uma deliberada intenção: romper pela estesia (capacidade de perceber sensações, sensibilidade), e pelo deleite estético, com os sistemas estáveis (ou consolidados) de escrita, antes adotando o espinhoso caminho das experimentações formais. Seja por meio de neologismos, metáforas, meta-narrativas, ou mesmo pelo descosimento franco, corajoso e até controvertido da realidade sedimentada no nível linear, meramente referencial. Fica à posteridade, com o salutar distanciamento temporal que ela impõe, os desdobramentos de recepção e crítica que uma obra de tal natureza terá. O certo, o imediato e o inquestionável hoje, aqui e agora, é que o livro persegue um fio contínuo de esperança em nossa vaga humanidade. Em tempo: O título dessa resenha foi inspirado na letra da música: “De onde vem o baião” de Gilberto Gil, utilizada na obra, p. 272. E o livro encontra-se à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/outrasparagens Krishnamurti Góes dos Anjos. Escritor, Pesquisador. Autor de: Il Crime dei Caminho Novo – Romance Histórico, Gato de Telhado – Contos, Um Novo Século – Contos, Embriagado Intelecto e outros contos e Doze Contos & meio Poema. Tem participação em 22 Coletâneas e antologias, algumas resultantes de Prêmios Literários. Possui textos publicados em revistas no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro publicado pela editora portuguesa Chiado, – O Touro do rebanho –Romance histórico, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional - Prêmio José de Alencar, da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance. #OutrasParagens #romancehistórico #romance #romancepoético

  • Gotas de Vinagre

    Há na língua portuguesa palavras que derivam de um processo de composição por aglutinação nas quais ocorreu a sua formação a partir de duas ou mais palavras. Tal é o caso do substantivo “Vinagre” que deriva do latim vinun – i, vinho + acer (latim), acris, acre, agudo, picante, ardente. Na prática tanto pode significar o líquido resultante da fermentação ácida do vinho, e que é usado como condimento, como também (num sentido figurado), aquilo que conhecemos como coisa azeda, ácida, que tem um tom crítico ou mordaz. “Vinagre” é também o título do mais novo livro do poeta (que é também tradutor), Alexandre Barbosa de Souza, que possui ilustrações de Rafael Campos Rocha. Editado pela editora Laranja Original, o pequeno volume de cuidadosa edição gráfica, nos deixa entrever um autor que reabilita o verso e o sentimento lírico por excelência, fazendo de tais recursos instrumentos de denúncia social. O processo de engano e alienação provocado pela estrutura social capitalista é um dos elementos centrais da crítica poética efetuada por Barbosa que observa concretamente o significado do caráter desumano e desumanizante a que estamos submetidos, no qual o cálculo econômico é o que reifica as relações entre os homens operando além de crassos equívocos, todo tipo de desajuste moral. Eis a dimensão social da poesia construída num lirismo demolidor e crítico cujo tema centra-se na “massa de manobra” em que se transforma a população. Vejamos o soneto sem título impresso na p. 12 da obra. “Enquanto à tripa-forra à banca sobra, A turbamulta furiosa se atraca, Tamanho ranço da massa de manobra, Que a tropa sangra ao preço da catraca. A plebe da estiva virou sócia Das docas à fronteira agrícola É bucha de clique dos escroques, Da malta que blinda o anestesista. Os donos da vida, reis das notas frias, Que sirvam de claque ao choque, Aos torpes barões azuis marinhos; Maldito valhacouto de rentistas! A nós só interessa a debacle Do privilégio patrimonialista.” (O escritor, poeta e tradutor: Alexandre Barbosa de Souza) Em outros poemas, vemos se acentuar o valor semântico individual de uma dada palavra. Exemplo: há dois poemas em que a palavra “flor” aparece configurando o que nos parece um ideal, cujas condições materiais de existência constituem a raiz mesma da flor. Na p. 51, última estrofe do poema, lê-se: “Devias calar tudo o que não flor Que me obrigas a ouvir E não me entregas”. A mesma estrofe se repete ao final do poema “Lua, Rosa, Uirapuru”. Entretanto, antes dessa estrofe, o poeta escreve: “Nem há esta rosa no teu coração Embriagado, infeliz mas sem lirismo tampouco te fere sequer o espinho” Aí temos o suprassumo da indiferença e insensibilidade que nos avassala. Se por um lado todavia, o olhar do poeta expressa angústias devido a desigualdades e injustiças sociais, por outro, a memória anuncia e reabilita outras leituras do passado humano numa direção diferente, ampliando o sentido da história. Vale a pena transcrever o poema “Cadáver esquisito (aerograma para Ernesto Wayne)”. “Sobre Guernica Breda e Fiat de Mussolini Junker e Heinkel de Hitler Contra Tupolev e Polikarpov de Stalin Kamikaze Mitsubishi Sobre Pearl Harbor Enola Gay Sobre Hiroshima Ó meu 14-Bis, Santos Dumont! Ó meu Saint-Exupery!” (Ilustrações: Rafael Campos Rocha) Um grito de revolta contra todos os crimes contra a humanidade, ou a própria estupidez humana. Que dizer? Alexandre Barbosa segue emprestando a devida importância à poesia na representação do espaço social, elevando-a a um instrumento crítico significativo na sondagem da realidade através do discurso lírico auto-reflexivo e transformador. Um golpe certeiro no espírito de nosso tempo marcado por contexto social altamente perverso, e de cinismo universal. A denúncia do cotidiano sofrido das pessoas, da ausência de liberdade, da falta de uma consciente participação política, é uma oposta de que a palavra poética pode auxiliar na mudança da sociedade. Pena que o autor o faça com tão poucas gotas de vinagre, digo de poemas. P>S> o livro encontra-se à venda em: www.laranjaoriginal.com.br/vinagre Krishnamurti Góes dos Anjos - Escritor, Pesquisador. Autor de: Il Crime dei Caminho Novo – Romance Histórico, Gato de Telhado – Contos, Um Novo Século – Contos, Embriagado Intelecto e outros contos e Doze Contos & meio Poema. Tem participação em 22 Coletâneas e antologias, algumas resultantes de Prêmios Literários. Possui textos publicados em revistas no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro publicado pela editora portuguesa Chiado, – O Touro do rebanho –Romance histórico, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional - Prêmio José de Alencar, da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance. www.facebook.com/krishnamurti.goesdosanjos?fref=ts #resenha #críticaliterária #poesia #livro #vinagre

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